Devo esquecer o telhado vermelho
e a janela com flores.
A escada escura e a imagem velha
que se escondia num canto,
e a cama de madeira negra e velha
e os teus lençois tão limpos,
e a chegada suave da manhã
que te desperta mais velha.
Mas não quero que os teus olhos chorem:
diz-me adeus.
O caminho é a subir
e eu vou a pé.
Devo dizer adeus à porta que se fecha
e que não quisemos fechar.
Devo encher o peito e cantar uma canção
se o frio de fora me faz tremer.
Devo ignorar este cão que agora ladra
atado a um poste seco,
e esquecer de repente a tua imagem
e este pequeno lugar.
Mas não quero que os teus olhos chorem:
diz-me adeus.
O caminho é a subir
e eu vou a pé.
Devo levar a guitarra às costas
e voltar a fazer o caminho
que uma tarde escura subindo ao cabeço
me trouxe até aqui.
As ondas apagarão as pegadas
que deixo no teu porto.
Vou a pé, o caminho é a subir
e dos lados há flores.
Joan Manuel Serrat - "M'en vaig a peu"
("Vou a pé" - tradução de Manuel de Seabra)
in:
Antologia da Novíssima Poesia Catalã
Editorial Futura, Lisboa, 1974
nota:
Para que não se diga que hoje à noite não houve poesia.
(Paulo, se passares por aqui, sabe que o tenho e que é teu.)
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