terça-feira, setembro 23, 2003

Quem paga o quê


Eduardo Prado Coelho (EPC), na esteira de João Lobo Antunes e de Manuel Sobrinho Simões, interroga-se sobre o financiamento do Ensino Superior público. (Público, 22Set2003, p.7, "Quem paga a Universidade?")

Pelo sim, pelo não, as Associações de Estudantes universitários, reunidas no Funchal (1) para mais um ENDA (Encontro Nacional de Dirigentes Associativos), avançam um calendário de contestações à política do Governo para o sector. (Público, 22Set2003, p.19, "Estudantes do Superior fazem greve a 21 de Outubro")

Como escreve EPC, "com pendular regularidade", as associações académicas tentam mobilizar a estudantada para lutar contra as propinas - no caso, já só contra o seu aumento. Ainda fazia sentido falar sobre a sua inexistência, tal como a conhecemos, nos idos de 96 a 98, e já me parecia óbvio que o caminho não passava por um "não" a algo que, aliás, já existia há muito, embora se confundisse com a taxa de inscrição ou matrícula e fosse uma ninharia.
O motivo pelo qual nunca fui contra o pagamento das propinas e sim contra a sua instauração sem assegurar as suas contrapartidas é complexo, mas o que me levou a ser contra o básico "não pagamos!" chega a ser penoso, de tão simples.

Numa altura em que era esse o lema dos estudantes, durante uma Assembleia Geral de Alunos da FBAUP, perante uma Aula Magna a abarrotar de gente, perguntei:
"Quantos aqui presentes pagam as propinas do seu próprio bolso?"
Envoltos num silêncio demolidor, cinco ou seis braços se ergueram, juntando-se ao meu. Como o meu, eram de trabalhadores-estudantes.
Mesmo assim, os meus dignos colegas não perceberam como o ministro, na altura Marçal Grilo, se ria dos seus slogans ridículos (e muito bem!), e marcharam para a 5 de Outubro a gritar que não pagavam, enquanto os seus pais faziam os respectivos pagamentos na Caixa Geral de Depósitos.

Quando vir os progenitores destas meninas e destes meninos a descer à rua e a gritar "basta!" ficarei impressionado. Até lá, será mais do mesmo. Só falta lembrarem-se de assegurar a mobilização geral, através de uma cervejeira que patrocine as "manifs". Era garantia de avenidas cheias!


(1) Já tenho a minha quota de ENDA's, mas... No Funchal? Viva o luxo, sim senhor. Rica vida. Mas talvez seja injusto, da minha parte.
Afinal, que melhor sítio para planear acções contra a política do Governo da República? Há que aproveitar estas sinergias de contestação!

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